quarta-feira, 2 de março de 2011

TEXTO REFLEXIVO - INTERTEXTUALIDADE EM MOVIMENTO
As pombas
Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

Raimundo da Mota de Azevedo Correia nasceu em Barra da Magunça (MA), em 1859 e faleceu em Paris, França, no ano de 1911.
                           AS PALAVRAS

Vai-se a primeira palavra despertada...
Vai-se outra mais...mais outra...enfim dezenas
De palavras vão-se aos textos, apenas
Enfileirando-se pela noite enluarada.

E de madrugada, quando já intertextualizadas
Acomodam-se, as palavras, no texto serenas
Exprimidas, umas grandes, outras pequenas
Na Sequência Textual todas incorporadas.

Também dos livros onde adormecem
Os sonhos, um por um, calmas permanecem,
Como permanecem as palavras nos vitrais...

No azul do mar como barco, se soltam
Fogem... Mas ao cais as palavras voltam
Agregando-se então, aos GÊNEROS TEXTUAIS...

            Paráfrase do Poema As Pombas de Raimundo Correia (Poeta Parnasiano)
            Autora Professora Sonia Von Grafen


    Como se vê, na Paráfrase acima, é possível elaborar um texto novo a partir de um texto já existente. É assim que os textos "conversam" entre si. É comum encontrar ecos ou referências de um texto em outro. A essa relação se dá o nome de intertextualidade.

    “A linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive, e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente. Isto significa que como escritor devo me prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanha de cinzas”.( Guimarães Rosa)
                                                                                   
    O renascimento de determinados textos acontece quando um texto retoma passagens de outro.
    Um texto de caráter científico cita outros textos, isto é feito de maneira explícita.      O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se o autor e o livro donde se extrai a citação. 
   Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito de obras que compõem um determinado universo cultural.
   Bem, eis aí a importância de ler sempre. Assim como as palavras de um texto não se juntam de forma isolada, os livros não são escritos ao acaso. Toda obra é fruto de influências contidas nas leituras anteriores de quem escreveu. O resultado é que as mesmas ideias, ou os mesmos temas circulam por aí na literatura do mundo, revestidos de roupagens diferentes segundo especificidades de época, autor, lugar...
   Basicamente, sempre que um texto faz alusão, cita ou dialoga com outro, temos uma relação intertextual.
   A intertextualidade não acontece, necessariamente, apenas entre textos escritos. Pode ocorrer entre linguagens diferentes também. Um bom exemplo é a polêmica em torno das comparações entre O Código da Vinci, o filme e o livro. São dois tipos de linguagem diferentes, mas tratando de um mesmo assunto, e que obviamente guardam relação de sentido um com o outro.
  A intertextualidade pode ocorrer basicamente sob duas formas: paráfrase e paródia.
  A paráfrase tem um sentido positivo. Ocorre quando um texto cita outro na intenção de reafirmar, reforçar, exaltar, concordar ou apropriar-se de seu significado para a construção de uma nova ideia. O melhor exemplo é nosso Hino Nacional.
(...)
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
“Nossos bosques têm mais vida”
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

  Vê as aspas? Os trechos envolvidos por elas foram retirados de um poema romântico chamado “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias. A exaltação ufanista da brasilidade, típica do início do romantismo, foi emprestada por Joaquim Osório Duque Estrada, para compor a letra do hino brasileiro, o que obviamente convém, pois a intenção do hino também é de exaltação.
  A paródia já significa o extremo oposto da paráfrase. É quando citamos um trecho no intuito de negar sem significado, polemizar com ele, criticá-lo, e, geralmente ridicularizá-lo. ( O Caceta e Planeta faz isso direto...)
Sem dúvida, o texto mais parodiado da literatura brasileira é a mesma “Canção do Exílio”.




  O texto apresenta um tipo de intertexto implícito, que requer dos interlocutores conhecimento do poema, para que haja compreensão do humor presente na charge.
  Pode-se dizer assim que, sobretudo, no ensino de língua portuguesa, os constantes desafios encontrados pelo professor são: compreender o texto como um produto histórico-social, relacioná-lo a outros textos já lidos e/ou ouvidos e admitir a multiplicidade de leituras por ele suscitadas.
  Tal entendimento do que seja texto evidencia a necessidade de trabalhar, em sala de aula, com vários gêneros textuais, usados em diferentes situações e com objetivos diversos: construir e desconstruir esses textos, ressaltando os efeitos provocados pelas alterações, criar intertextos, verificar o gênero textual e modificá-lo etc. Portanto, para realizar esse tipo de trabalho com a língua portuguesa, o professor precisa ter consciência da diferença entre saber usar uma língua, adequando-a convenientemente a contextos e saber analisá-la, tendo conhecimento de conceitos sobre sua estrutura e funcionamento e a nomenclatura gramatical pertinente.
  Atualmente, a escola enfatiza o trabalho da leitura e da produção de textos, tentando equilibrá-lo com a análise das estruturas da língua e com seu uso. Dessa forma, através da interação com vários gêneros textuais e o intertexto presente neles, o professor pode investigar a experiência anterior do aluno enquanto leitor de palavras e de mundo e seguir pistas deixadas pelo autor no texto para considerar também o implícito, inferindo, assim as intenções do autor.
  Então, o aluno, por sua vez, desempenha ora o papel de leitor, ora o papel de produtor de textos, ou seja, aquele que pode ser entendido pelos textos que produz e que o constituem como ser humano.
  O objeto de estudo deste trabalho, a intertextualidade, serviu para ilustrar a importância do conhecimento de mundo e como esse fator interfere no nível de compreensão do texto. Pois, embora o aluno-leitor não identifique o intertexto, vai entendê-lo. Mas ao relacionar um texto com outro, compreenderá o texto lido na sua profundidade e por consequência será capaz de refletir sobre o recurso adotado pelo autor para quando for compor textos. Dessa forma, na aula de Português, por exemplo, o aluno compreenderá que a intertextualidade é um das estratégias utilizadas para a construção de um texto. No caso específico da publicidade, quando utiliza a intertextualidade é uma forma diferente de persuasão cuja intenção é de levar o leitor a consumir um produto e de também difundir a cultura.


  Encontramos também, a intertextualidade nas histórias em quadrinhos.
      
                                       
  Enfim, a intertextualidade deve fazer parte do planejamento do professor de Português. Pois, afinal, é a cultura do país e do mundo que estão em movimento.  Cabe a ele, então, levar o leitor a reconhecer intertextos e a redigir utilizando também esse recurso, disponibilizando a eles, desde as séries iniciais, esta viagem ao lado da imensidão de gêneros textuais permitindo que interajam e que tenham discernimento para reconhecerem àquilo que os mesmos fazem inferência, ou seja, em que lugar desta viagem chamada vida que já se cruzou com este texto e/ou assunto mencionado neste outro e assim vão-se as palavras...uma a uma... formando esta locomotiva chamada texto.
                                                                                 Professora Sonia Von Grafen
                                                                                 Tutora do Gestar II
                                                                                 Maracaju – MS.

O excelente educador abraça quando todos rejeitam, anima quando todos condenam, aplaude os que jamais subiram no pódio, vibra com a coragem de disputar dos que nunca brilharam”. (Augusto Cury)
ALMEIDA, Fernando Afonso de. Desvios e efeitos na produção de enunciados. In Boletim da ABRALIM. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2001.
AMOSY, R. Imagens de soi dans le discours. Lausanne: Delachaux, 1999.
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986.
BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral. São Paulo: National Edusp, 1976.
BRASIL. Secretaria de Educação. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2002.
BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, textos e discursos. São Paulo: EDUC, 1999.
LEMOS, Cláudia de. Aquisição da linguagem [Minicurso]. Rio de Janeiro: UFF, 2001.
CUNHA, José Carlos. Pragmática lingüística e didática de línguas. Belém: UFPA, 1991.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
KOCH, I. A interação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1997.
SILVA, Maurício da. Repensando a leitura na escola: um mosaico. Niterói: EdUFF, 2002.


2 comentários:

  1. Por favor, pode postar mais histórias em quadrinhos que apresentem intertextualidade. Preciso para um trabalho da escola.

    ResponderExcluir
  2. ótimo me ajudou muito no meu trabalho da faculdade, parabéns

    ResponderExcluir